A arte de Dulce Araujo | L’art de Dulce Araujo
CIDADE, FRAGMENTOS DOS ESPAÇOS
Adaptado do original em francês
As paisagens urbanas de Dulce Araujo misturam impressões de luzes e de barroco. Elas nos dão a ver uma cidade em espelhos com as suas luzes refletindo-se e os seus jogos de sombras. A artista faz surgir perante os nossos olhos uma cidade mineral, fragmentada em estilhaços de cores, sublinhada por seus materiais: pedra, cimento, madeira fixados na tela como se fossem tecidos preciosos e bordados. Seus personagens urbanos são captados na sua imobilidade, estatuária ou silhuetas fantasmagóricas.
Por ela, a cidade é vista pela autora como um imenso cenário flamejante e labiríntico, com predominâncias quentes, amarelo e vermelho. Ali, é uma cidade glacial, preta e azul, com suas luzes de madrugada ou de ocaso, suas atmosferas « brumosas » onde os transeuntes são inscritos como na pedra em «sombras chinesas».
O olhar de Dulce Araujo é cinematográfico, evoca a poesia surrealista em zooms fantasmagóricos com sobreposições de temas urbanos «dissociados». Através de formas caleidoscópicas de uma geometria complexa, a sua arquitetura desconstruída é sensualizada pela luz, sublimada pela cor, pelo movimento da colmeia urbana, instantes fixos para a eternidade por «l’œil numérique» olhar digital, e amassados pelo olhar interior da artista.
A cidade como alma, misteriosa, imprevisível, paradoxal, profunda como um olhar, batendo como um coração. Uma cidade de carne e sangue, paroxísmica, uma cidade que retira sua força viva apenas do material humano que é a expressão última. Uma cidade que se abisma na atmosfera queimada, saturada, polarizada, que acentua seus contrastes e suas justaposições improváveis. O fogo sobre o gelo, o sol fraturados nas paredes de vidro. Uma vertigem dos sentidos na atomização do sentido.
F.D.
VILLE, L’ÉCLAT DES LIEUX
Les paysages urbains de Dulce Araujo mêlent l’impression des lumières et le baroque des mises en abîme. Elle nous donne à scruter une ville en miroirs avec ses lumières réfléchissantes et ses jeux d’ombres. L’artiste fait surgir sous nos yeux une ville minérale, fragmentée d’éclats de couleurs, surlignée par ses matériaux : pierre, béton, bois qui sont fixés sur sa toile comme des tissus précieux et brodés. Ses personnages urbains sont saisis dans leur immobilité, statuaires ou silhouettes fantomatiques.
Ici, la ville est perçue par l’auteur comme un immense décor flamboyant et labyrinthique, aux dominantes chaudes, jaunes et rouges. Là, c’est une ville glacée, grise, noire et bleue, avec ses lumières d’aube ou de fin du jour, ses atmosphères brumeuses où les passants s’inscrivent comme dans la pierre en ombres chinoises.
Le regard de Dulce Araujo est cinématographique, il évoque la poétique surréaliste en gros plans fantasmagoriques avec la superposition de thèmes urbains dissociés. Par formes kaléidoscopiques à géométrie complexe, son architecture déconstruite est sensualisée par la lumière, sublimée par la couleur, magnifiée par le mouvement de la ruche urbaine, instants fixés pour l’éternité par l’œil numérique et malaxés par le regard intérieur de l’artiste.
La ville comme une âme, foisonnante, mystérieuse, imprévisible, paradoxale, profonde comme un regard, battante comme un cœur. Une ville de chair et de sang, paroxysmique, une ville qui tire sa force vive du seul matériau humain dont c’est l’expression ultime. Une cité qui s’abîme dans l’atmosphère brûlée, saturée, polarisée qui accentue ses contrastes et ses juxtapositions improbables. Le feu sur la glace, le soleil fracassé sur les parois de verre. Un vertige des sens dans l’atomisation du sens.
F.D.